Na antigüidade era melhor tomar cerveja, bebida escura, forte e nutritiva, do que água.
Se hoje em dia uma pessoa dissesse que gostaria de ser sepultada junto com barris cheios de cerveja só pensaríamos uma coisa: que esse fulano há de ser um tremendo pau d’água enquanto vive. Mal se sabe que os alguns dos reis da antiga Babilônia eram enterrados assim. Na antiguidade, a cerveja era popular entre as civilizações-berço da humanidade, tanto por valores místicos quanto por fatores econômicos. O mais antigo sistema de leis da humanidade, o código de Hammurabi babilônico, era severo em termos de defesa do consumidor: punia com pena de morte o cervejeiro que diluísse a cerveja que vendia.
Assírios e Sumérios dominavam a fermentação de cereais há cerca de 5.000 anos atrás. Foi através do Egito que a cerveja se espalhou pela Europa, onde hoje é produzida com mais rigor. Naquele tempo, a cerveja era muito produzida de forma caseira, era escura e forte. Substituía a própria água, que por vezes era impura e trazia diversas doenças para as populações antigas. Sem contar com o fato de que, como a cerveja era integral, alimentava pra valer. Era o verdadeiro “pão-líquido”.
Durante a Idade Média, para obter uma aromatização interessante, os europeus misturavam à cerveja gengibre, louro, flores, frutas silvestres e uma série de outras especiarias. Até que os monges do mosteiro de St. Gall, na Suíça, pelos anos de 700 a 800, resolveram utilizar o lúpulo. Na verdade, a flor do lúpulo só chegou a ser largamente misturada à cerveja depois dos argumentos da abadessa (depois canonizada) Sta. Hildegard, cervejeira de mão cheia.
O lúpulo faz um bem danado à saúde. Consumido na forma de chá, ajuda a controlar problemas nervosos e digestivos, distúrbios sexuais e é até anti-cancerígeno. Só que fede demais. O cheiro do lúpulo é horripilante. Eu tinha comprado cerca de 200 gramas de lúpulo para fazer chá, mas não agüentei ficar com ele dentro do apartamento. Joguei fora o saquinho pelo duto de lixo orgânico que desemboca diretamente na lixeira que o porteiro põe pra fora todos os dias. Ele, ao sentir o aroma do que eu tinha jogado ali, deve ter caído de costas no chão, duro. Ironicamente, o chá não tem um gosto ruim, não lembra nem de perto o cheiro do lúpulo seco.
O lado místico: baba de javali na cerveja
O maior potencial místico e simbólico da cerveja se desenvolveu com as culturas pagãs européias. Era a bebida da soberania, altamente consumida pelos guerreiros, acompanhada da carne de javali (alguém aí já leu os quadrinhos do Asterix?). É também numa cuba de cerveja onde é afogado o rei pagão deposto, que tenha abusado do poder.
Uma lenda gaélica dizia que um príncipe, Ceraint, O Bêbado, foi quem primeiro preparou a cerveja de malte. Pôs a ferver uns cereais junto com flores do campo e um pouco de mel, até que um javali apareceu por ali e babou dentro do tacho da bebida, o que provocou a fermentação.
Até na antiga África, o pombe, a cerveja de banana, era a bebida dos guerreiros. As cervejas de milho ou de mandioca, respectivamente na América Equatorial e na Amazônia, eram usadas como alimentos dos ritos de passagem. Simbolizavam o mesmo para o indivíduo iniciado religiosamente quanto o leite para a criança. A cerveja chegava a ser o único alimento dos sábios e anciãos. E depois dizem que cerveja é bebida de boêmio.
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