Sábado de aleluia (e pontapés)

Na quinta-feira, Judas trai Jesus. Na sexta, Jesus é morto. No sábado, ora pois, o povo se vinga.

É mais ou menos com esse espírito que muitos cristãos comemoram o Sábado de Aleluia e sua mais famosa tradição: a malhação de Judas.

Ainda me lembro de alguns dias de minha infância, quando na Páscoa ia visitar alguns parentes no litoral de Santa Catarina. No sábado, olhava com espanto pela janela da casa de minha avó todo aquele povo doido chutando e apedrejando aquele boneco maltrapilho. "É o Judas", dizia meu avô.

Malhar o Judas é um costume trazido para a América Latina pelos portugueses e pelos espanhóis. Aqui, em alguns lugares, populares criativos vestiam os bonecos de Judas das mais variadas formas (alguns tinham até cara de políticos e demais desafetos do povão). Aos poucos a tradição foi sendo abandonada pelas grandes cidades, por causa da rápida urbanização (já imaginou malhar um boneco em plena Avenida Paulista?), ficando restrita a bairros isolados e ao cenário interiorano.

Bom, você, caro e fiel leitor do Gororobas, deve nesse momento estar se perguntando o que que essa história de malhação do Judas tem a ver com comida. Realmente não tem nada a ver, a não ser por uma dica: em dias de grande exercício físico, como empunhar sarrafos, atirar pedras, socar e chutar bonecos de pano, arrastando pelas ruas o que sobrar de seu corpo molenga, vale uma alimentação leve. Portanto, suspenda as carnes gordurosas, os molhos e carboidratos e capriche nas saladas e legumes. Arroz integral com curry e lentilhas é uma boa pedida. Até porque no domingo você provavelmente se entupirá de chocolates.

Além de tudo, para os católicos, grandes farturas gastronômicas não combinam com o Sábado de Aleluia. Afinal, é o dia em que Jesus está em seu sepulcro, enterrando seus sentimentos de culpa e preparando sua volta ao mundo dos vivos. Cair na gula pode gerar sentimentos de culpa (em você).

Texto do Colaborador Bruno Brasil