terça-feira, 22 de abril de 2008

A religiosidade e a alimentação

Mesa preparada para Sêder de Pessach

imagem by http://www.cip.org.br/m3.asp?cod_pagina=1030


O homem é um ser religioso por natureza. Mesmo os que se dizem céticos ou agnósticos, acabam por descobrir que crêem em algo, mesmo que seja em algo que eles não sabem explicar o que é. E eu argumento que isso é Deus. Não importa qual a religião ou mesmo a falta dela, o fato é que todos acreditamos em Deus, mesmo quando não temos consciência disso.

Falo de religião aqui, porque religião é cultura e se é cultura, faz parte da gastronomia. A religião inspira as artes plásticas, a literatura, filmes e peças teatrais, e muitas vezes, não só inspira como doutrina a alimentação de seus fiéis.

Já falamos aqui das ceias de Natal, da alimentação no Zen Budismo, da Páscoa cristã, da quaresma e do kosher, a alimentação dos judeus. Hoje falaremos da Páscoa judaica.

Os judeus seguem o calendário lunar, baseado nos ciclos da lua e ajustado de acordo com a maturação da colheita. A cada lua nova inicia mais um mês, neste sistema o ano pode variar entre 12 e 13 meses. Com a dispersão dos judeus pelo planeta houve a necessidade de um calendário fixo e esse é o usado no judaísmo rabínico. Assim como no cristianismo e no budismo, existem diversas ramificações do judaísmo.

De acordo com a tradição, a primeira celebração de Pessach (a passagem do anjo da morte para a libertação dos judeus) ocorreu há 3500 anos, quando de acordo com a Torá, Deus enviou as Dez pragas sobre o povo do Egito. Antes da décima praga, o profeta Moisés foi instruído a pedir para que cada família hebraica sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais (mezuzót) das portas com o sangue do animal, para que não fossem acometidos pela morte de seus primogênitos.

Chegada a noite, os hebreus comeram a carne do cordeiro, acompanhada de pão ázimo e ervas amargosas como o rábano, por exemplo. À meia-noite, um anjo enviado por Deus feriu de morte todos os primogênitos egípcios, desde os animais até mesmo os primogênitos da casa do Faraó.

O Faraó, temendo ainda mais a Ira Divina, aceitou liberar o povo de Israel para adoração no deserto, o que levou ao Êxodo. Como recordação desta liberação, e do castigo de Deus sobre o Faraó foi instituído para todas as gerações o sacrifício de Pessach.

Pessach é hoje uma festa central do Judaísmo e serve como uma conexão entre o povo judeu e sua história. Antes do início da festa, os judeus removem todos os alimentos fermentados (chamados chametz) de seus lares e os queimam. Não é permitido permanecer com chametz durante a Pessach.

Os objetos de chametz são escondidos, e outros, passíveis de um processo de kosherização são mantidos. Os utilizados para cozinhar passam pelo fogo, e os de comidas frias passam pela água. É proibido realizar qualquer trabalho depois de meio-dia de 14 de Nissan, ainda que um judeu possa permitir que um goy (empregado) realize este trabalho.

Esta é antes de tudo uma festa familiar, onde na primeira noite é realizado um jantar especial chamado de Sêder de Pessach. Desta refeição somente devem participar judeus e gentios convertidos ao judaísmo. Neste jantar a história do Êxodo do Egito é narrada, e se faz as leituras das bençãos, das histórias da Hagadá, de parábolas e canções judaicas. Durante a refeição, come-se pão ázimo e ervas amargas, e utiliza-se roupa de sair para lembrar-se do "sair apressado da terra do Egito".

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